Eu odeio plano de negócios, acho que temos um fetiche em relação aos planos de negócios. Acho também que o ensino de empreendedorismo no Brasil privilegia extremamente o plano de negócios que deveria ser uma mera ferramenta, um instrumento para levantar a discussão dos itens essenciais de uma empresa. O que acontece é que se fica tão embevecido com o instrumento – plano de negócios – que se esquece do essencial: produto e mercado.
Deixa eu relatar uma história que ilustra o meu pensamento, estava visitando uma incubadora e me apresentaram uma empresa como extremamente promissora. Eu me sento para conversar com o pessoal, o papo foi mais ou menos assim: (vou manter as características da empresa em segredo, sem constrangimentos)
- Camilo: Oi! Tudo bem? Eu soube que vocês estão desenvolvendo um sistema para X. Excelente. Posso ver o seu plano?
- Empreendedor: Ah! Sim, nós temos 3 planos de negócios! (ops! 3???)
- Camilo: Não! Eu estava falando do plano do produto. Algum tipo de especificação, cronograma. Quando vocês pensam lançar a primeira versão minimamente funcional?
- Empreendedor: Entendi. Estamos esperando lançar algo em 6 meses.
- Camilo: Que bom. Como vocês estão resolvendo a questão do problema Y (tecnologia essencial para o projeto deles)
- Empreendedor: Problema Y? Não pensamos nele ainda.
- Camilo: Uma pergunta. Vocês dizem que vão lançar algo em 6 meses e não sabem ainda como abordar o problema Y? O que vocês vão lançar em 6 meses?
- Empreendedor: Estamos discutindo o que vamos lançar em 6 meses, ainda não detalhamos.
- Camilo: Ok, valeu, boa sorte, depois conversamos.
Esta empresa ainda existe? Não. Eles tinham um monte de planos de negócios, com as palavras de moda, com planejamento financeiro com faturamento exponencial e cálculos de taxa internas de retorno com uma precisão de dois dígitos e não tinham a miníma idéia do que iriam fazer na prática.
Por causa disso que eu não me supreendo com esta pesquisa que o Guy coloca no site dele. Um estudo realizado em uma faculdade americana (Babson College) analisou 161 negócios que foram iniciados por ex-alunos. Não existiu diferença estatística no sucesso dos que iniciaram com um plano de negócios e sem um plano de negócios. A conclusão é que caso o empreendedor não precise levantar dinheiro de investidores, não existe a necessidade de escrever um plano de negócios detalhado.
Com isso devemos jogar fora os planos de negócios? Não! A questão é o fetiche (e o mercado…) em torno disso que leva os empreendedores a focarem no plano de negócios no lugar de se focar no produto, mas isso não tira a necessidade de analisar o mercado, planejar os próximos passos, ter a visão de onde se quer chegar e comunicar para a equipe o caminho a ser pecorrido. Veja este texto de Guy sobre plano de negócios e leia o manifesto The Art of Start. Em resumo:
- Perfect your pitch, then write your plan.
- Use the business-plan exercise as a way to get your team on the same page.
- Keep it short: ten to twenty pages.
- Spend no more than two weeks writing it.
- Don’t get obsessed with with details in your financial forecast because it should be one page long
Eu sou fã do plano de negócios, mas como tudo na vida, se exagerar faz mal. O plano de negócios às vezes gera o que chamo de síndrome do perfeccionismo. Se a síndrome ataca o projeto real não vai adiante. Começar com um bom plano é bom, ajuda a arrumar os pensamentos do empreendedor a alinhar com a equipe de trabalho, mas nada como meter a mão na massa e deixar o projeto se desenvolver um pouco por conta própria. Muitos projetos inovadores surgiram do tentar e tentar novamente.
Se o problema Y for tecnologia Microsoft passa pra cá que eu resolvo! hauhauhauhauhauau
Já ajudo a começar! 😀
O Business Plan é uma ferramenta fantástica, descoberta um pouco tardiamente. Veio como organizador de idéias, sendo, nada mais, do que a velha e boa análise de retorno do investimento, acompanhada de um texto explicativo e plano de marketing.
Deu tão certo que virou fetiche.
Esse texto apenas dá uma sacudida no exagero que estavam dando nessa fantástica ferramenta.
Repetindo aqui o comentário que fiz no blog.meira.com:
Start-up é feito padaria: se no final do mês a receita for maior que a despesa, objetivo cumprido (este é a única regra para o seu depto. financeiro). O resto é ouvir os clientes, melhorar seu produto e servico para atender cada detalhe. Os engenheiros de aplicacao sao de fato os nossos usuários! Isso funciona até você estar faturando uns 3 milhoes de reais. Depois a coisa complica um pouquinho, aí é bom pegar mais cérebros (mbas ou nao) para azeitar a máquina. O meu plano de negócios por enquanto sao 12 slides powerpoint e 40 clientes opinando.
Outra coisa: geografia É importante. No caso do Brasil, SP é o centro de negócios do país e é lá que seu comercial (mesmo que seja somente você) deve estar. Tecnologia vc pode fazer em Campina Grande, Arcoverde ou na Bratislava, sem problemas. Agora construir uma reputacao em um nicho de mercado por enquanto só ao vivo e em alta definicao.
Realmente o BP é uma ferramenta fantástica, ajuda na questão etapas. Como começar e como terminar, porém como ja foi dito anteriormente, só precisa ser levada ao pé da letra no caso da necessidade de captação de recursos para deixar de se ter uma ideia e se ter um fato. No caso do intra-empreendedorismo, a empresa já fornece as ferramentas daí é só desenvolver a ideia de forma objetiva… Detalhes financeiros e estratégicos entram só depois que a solução ou produto já tiverem sido desenvolvidos.
Só pra Complementar a Babson College é considerada a maior escola em Entrepeneurship & Innovation do mundo… o Mba deles chamado MEI é fantástico!!!!