Como o histórico do meu site se perdeu, segue de novo este post antigo
Morcego, você venceu!!!
Resolvi aceitar o convite que me foi feito, para assumir o Ministério da Defesa, por amor a pátria e dever cívico, assumo as minhas responsabilidades agora como pessoa publica.
A minha posse foi meia monótona, um cerimonial chato, cheio de oficiais antigos, olhando com uma cara meia desconfiada, afinal a pouco mais de uma década nem estudar no ITA eu podia por ser mulher, mas agora, cá estou, ministra da defesa tomando posse.
Noto as mulheres dos meus oficiais generais das três forças, conversando entre si o tempo todo, já sei, estão falando mal de mim e reparando na minha roupa, só pode ser!
Deixa pra lá, o sexo feminino é assim mesmo, vamos ao discurso de posse, que é o que interessa.
Minha linha de ação, explicada no meu discurso de posse, estará centrada em cima de algumas macro estratégias que considero fundamentais para o MinDef no Brasil.
- A redução gradual e segura dos custos com pessoal ativo e inativo, sem incorrer na violação de direitos adquiridos e valorizando a profissão do militar dentro do novo ambiente democrático.
- A abertura do dialogo com a sociedade Brasileira sobre um novo modelo de defesa, mais adequado as nossas necessidades e limitações.
- A re-adequação operacional das FA’s diante do novo cenário mundial e sul continental dos últimos 15 anos.
- A transição suave e segura para instituições civis de áreas chaves como infra estrutura aérea, marítima e as real separação entre temas militares e de segurança interna.
No outro dia, compro todos os principais jornais do Brasil, para ver os comentários sobre as propostas que defendi.
Parede que a Sandy anunciou que esta grávida, isto roubou a cena nos jornais brasileiros naquela segunda feira, não saiu nada em destaque, apenas uma meia coluna no meio do Caderno 1 de alguns jornais.
Mas tudo bem, vamos trabalhar, é ate melhor um começo low-profile.
O meu primeiro pilar, isto é a redução gradual dos custos. A idéia é simples. Meta de economia de 1% ao ano com pessoal, cortando a entrada de novos militares.
Se 80% do custo é com pessoal e 20% com custeio, e considerando que a carreira média é de 30 anos, então temos 3,3% do efetivo entrando a cada ano. Cortando 33% do volume de entrada a cada ano, temos 1% de economia com pessoal, o que dá 5% de aumento com custeio. Em 20 anos eu dobro as verbas de custeio.
Para cortar 33% do volume de entrada a cada ano, tenho que cortar tudo que não é primário nas FA’s. Assim vou fechar as juntas de serviço militar entre outras instalações militares.
O novo sistema é mais simples, o jovem vai ao correio preenche um formulário dizendo se quer servir ou não, e o envia pelo correio.
Uma empresa licitada para isto, digita os formulários, e manteremos um cadastro único, tal qual o previdenciário e fazendário. Podemos nos dar ao direito de em não atingir o numero mínimo de recrutas necessários, chamar uma cota dos que decidiram não servir.
Mas o sistema novo é mais simples, não existe mais carteira de reservista, apenas um status de “Em dia com as obrigações militares”que será unifico com o da justiça eleitoral e com a Fazenda. Assim o cidadão terá em apenas um cadastro, seu status eleitoral, fazendário e militar.
A economia projetada parece boa, são muitas juntas militares e muitos tenentes batedores de carimbo em carteira de reservista, livre para fazerem outras coisas.
Sou surpreendida por um telefonema da casa civil dizendo que a licitação para a empresa de processamento de dados, tem que ser ganha por uma empresa carioca que o filho do presidente é sócio, e o ministro da casa civil é que vai intermediar o negocio.
Também queria criar o “PreviMil”, fundo de previdência dos militares, que a médio prazo começaria a tirar do orçamento do MinDef um pouco do peso das pensões. Novamente sou avisada pelo planalto, que o presidente do “PreviMil” seria um ex sindicalista ligado a CUT indicado pelo Luiz Gushiken.
Bem, decidi não ser cúmplice disto, tudo e esqueci este plano de redução gradual de despesas de pessoal, vou me focar no segundo pilar, que é um processo de comunicação mais direto e honesto com a sociedade civil sobre a temática de defesa.
Surgiu uma oportunidade ótima para começar, fui convidada pelo programa Roda Vida da TV Cultura para uma entrevista ao vivo.
O pessoal da Cultura teve a sensibilidade de convidar os melhores jornalistas brasileiros no tema para me entrevistar. Estavam lá o Roberto Godoy, o Pedro Paulo Resende, Roberto Lopes, Ricardo Bonalume, alem dos editores das principais revistas tal como ASAS, T&D, S&D.
Uma bancada de gente experiente e conhecedora do tema, eu estava adorando a idéia de termos duas horas de um grande debate sobre defesa.
O programa começou em alta temperatura. Simplesmente já no começo da entrevista, os jornalistas ali reunidos começaram a lavar a roupa suja entre eles, quem escreveu o que sobre o outro, quem plagiou a idéia do outro na época em que eram da mesma redação.
Durante o intervalo, ai as coisas foi para as vias de fato, maior porradaria.
O pessoal de duas revistas que falam de Defesa ficaram trocando uns insultos sobre um negocio de ser patrocinador da LAAD, parece que um era, agora é o outro, rola um ciúmes, que não entendi direito.
O editor de uma delas me procurou no meio da confusão perguntando se meus contatos com o governo russo não o ajudariam a receber um dinheiro que parece que prometeram pagar e não pagaram por uma matéria encomendada. Ele ainda desabafou: “Eu só falo sobre a Rússia na minha revista e é assim que me tratam”,um de outra revista gritou indignado no meio da confusão: “Liga não colega, até os franceses com quem eu trabalho já foram melhor nisto, a crise ta feia pra todo mundo”
A coisa parece que foi tão seria que o Roberto Lopes saiu de ambulância, e seus agressores, outros dois jornalistas da velha guarda foram a um DP prestar esclarecimentos.
Sem poder continuar o programa, o diretor, colocou no ar a reprise do programa passado onde Beth Carvalho explicava porque não pode desfilar na mangueira este ano. Parece que a entrevista da Sambista deu o dobro de audiência do que tava dando o primeiro bloco de entrevista com a ministra da defesa.
Este negocio de comunicação com o povo, é complicado mesmo, talvez seja por isto que em lugares como Rússia e China, não se fala muito com a imprensa, estou convicta que já que os pilares da redução de custos de pessoal e transparência de comunicação não iam bem, eu devo ir direto a questões operacionais.
Eu estava convencida que era necessária botar a mão em temas sensíveis como por exemplo a interrupção da operação de asa fixa na MB que tem tido resultados muito fracos operacionalmente e que refletem no resto da esquadra.
Fiz uma longa apresentação, demonstrando que a aviação embarcada em marinhas médias, teve dois momentos distintos.
Um primeiro quando os cerca de 10 Nae da Classe Colossus e demais classes que sobraram nos anos 40 e 50 compunham soluções simples onde Brasil, Argentina, Holanda, Canadá, Índia e Austrália puderam ter o “Nae Próprio”, mas que estes sistemas só se tornaram disponíveis, porque EUA e Inglaterra precisavam de Nae muito maiores para suportar a crescente sofisticação dos jatos embarcados.
E que neste clube dos paises médios, todos, um a um foram renunciando a operação embarcada por falta de recursos para ter um Nae adequado as novas necessidades já que os custos começaram a crescer.
Um segundo momento acontece com o conceito de V/STOL, que nasceu na RN, mas que teve programas mais adequados as nossas necessidades na experiência de Espanha e Itália.
Porem que no caso destes paises só se tornaram viáveis por estarem dentro do âmbito da OTAN e terem industrias navais competitivas para executarem seus projetos.
O Brasil esta preso ao conceito de velhos Nae dos anos 60 que a maioria já renunciou e não tem competitividade naval para executar um programa de Nae como Espanha e Itália já o fizeram, ou como Índia e China estão a fazer.
Apesar da clareza dos fatos, a reação do almirantado não foi muito favorável a um plano de aposentadoria da asa fixa, com uma possível janela de volta a este tema depois de 2020 quando concluirmos a construção das novas escolas, o que teria nos dado maior consistência em industria naval, coisa que regredimos nos últimos 15 anos salvo na área de submarinos que evoluímos muiito.
Pelo que senti, o A-12 na minha gestão seria um sapo que eu teria que engolir, por pura “Política institucional da MB”.
De volta a Brasília e com um sapo de 32.000 ton na garganta, voltei a estudar o problema.
A idéia seria um conceito que vi pela primeira vez em Israel no final dos anos de 1990. Chama-se: “Orientação por capacidade necessária”.
A idéia é simples. A IDF pergunta que capacidade militar precisa ter e as lista em ordens de prioridade. Se a necessidade é ter digamos 200 F-16 na linha de vôo, então se orienta o investimento para tal, e as prioridades abaixo disto são postergadas.
Isto explica por exemplo, porque eles tem F-15, F-16 e treinavam com Piper Cub e Folga Magister, porque o foco era manter a capacidade desejada.
Entenderam o conceito?
Na minha versão tupiniquim desta filosofia, se a MB desejava manter um Nae, então compraríamos 12 caças F-18 modernizados, e teríamos os F-5 e A-1 transferidos de Santa Cruz para o norte do Brasil e planalto central.
A idéia era que em São Pedro da Aldeia houve-se pelo menos 2 F-18 em alerta ao invés de 2 F-5 em Santa Cruz. Agora os F-5 estariam em Anápolis com a saída dos F-103 e os A-1 na Amazônia.
Então ao invés de comprar 12 caças cobrir o gap do GDA teríamos 12 caças na MB que seriam usados para o Nae e para a defesa aérea.
Ganharíamos flexibilidade militar.
Expliquei o conceito ao meu comandante da aeronáutica.
Não vi uma reação muito favorável. Ele me explicou que a maioria dos oficiais de Santa Cruz, já estão ambientados ali, já tem seus apartamentos na cidade do Rio de Janeiro, e alguns suas modestas casas de campo em Teresópolis, e que sair dali e ir para o interior do Brasil não era uma opção agradável para eles.
Também explicou sobre a enorme tradição dos esquadrões que ali estão, e toda a importância histórica daquilo para a FAB.
Ele deixou claro que não tinha nada contra a região norte do Brasil, ele mesmo pilotou muitos aviões na sua época do CAN em toda aquela região, e que poderíamos ao invés de levarmos F-5 e A-1 para a região, operar os aviões C-295 e C-212 que seriam segundo ele a melhor escolha.
Eu me sentia como se estive-se em pleno governo JK, era odiada pela Marinha e pela FAB por causa da questão da asa fixa na aviação naval. No EB também já não era bem quista por causa da proposta de mudança no serviço militar com o fechamento das juntas.
Não tinha muito apoio dentre meus comandantes chefes de cada força.
Justamente naquela semana, tumultuada, um foguete explode em Alcântara e 21 pessoas morrem.
Durante a noite tomei uma decisão. Iria recomendar ao senado a formação de uma comissão independente de investigação. Tal qual acontece nos EUA e na Rússia este tipo de comissão é um importante elemento de auto critica do programa como um todo, gerando elementos de mudança das políticas espaciais.
Para minha surpresa, os responsáveis pelo lançamento, que são exatamente as pessoas que devem ser investigadas, formam uma comissão eles próprios dentro do CTA para investigar o caso.
No governo, preocupado com a reforma ministerial, no congresso com algumas CPI’s pegando fogo, não sou ouvida.
Nas universidades publicas, tradicionais celeiros de pessoas e idéias, não consigo nem uma dúzia de doutores para formar a dita comissão independente, porque elas estão a 60 dias em greve, a exemplo do que fazem todo ano letivo.
Sem poder fazer absolutamente nada de concreto no caso do foguete, tenho que esperar o relatório que não chegou a conclusão alguma e meses depois ainda é recomendada a promoção do brigadeiro chefe do lançamento que matou 21 pessoas.
Olha, eu acho que sou uma ministra em processo de fritura, meus comandantes militares fazem o que querem, e o presidente não quer se envolver muito com isto, no congresso dizem que a pessoa que melhor conhece o assunto é um tal de Aldo Rebelo, me sinto desmotivada, e resolvo usar a estratégia do meu antecessor, Valdir Pires, isto é, cruzar os braços e não fazer porcaria nenhuma.
Agora eu entrei no esquema!!!
Toda sexta feira pego um avião do GTE e vou de Brasília a Florianópolis, onde volto na segunda depois do almoço. Os nordestinos que me desculpem, eu acho as praias de lá maravilhosas, mas tenho um caso de amor por Santa Catarina.
Só que agora sou uma pessoa publica.
Já não posso fumar em local publico para não ser fotografada, até um dos meus pequenos prazeres que é tomar uma caipirinha de vodca debaixo do guarda sol enquanto minha filha brinca na areia não é mais possível, porque um jornalista cretino escreveu que sou uma bêbada porque tomei 3 copos de caipira durante a manha de sábado na Joaquina.
Naquele final de semana desgraçadamente eu usava um biquíni com as cores verde na parte de cima e amarela na parte de baixo, engordei de anciosa nos últimos meses, e nem a parte de baixo servia mais com a parte de cima do mesmo biquíni.
Fui fotografada e sai na capa da Revista Contigo:
“Ministra da Defesa bebe vodca compulsivamente, embriagada vai a praia com biquíni nas cores da bandeira”.
A imprensa só fala nisto, finalmente consegui a atenção que não tive no plano de redução de efetivos, no debate do Roda Vida ou na crise do VLS.
Capa da Folha e do Estadao, porque o comando da aeronáutica que quer o meu fim, deixou vazar que estive 10 vezes em Florianópolis e que nos 10 vôos o piloto do avião era o mesmo.
As revistas sensacionalistas começam a especular que estou tendo um caso com o rapaz, que é casado. Quando na verdade o motivo dele voar pra mim, é que ele tem família na cidade e aproveita para passar o final de semana com eles.
Agora estou arruinada.
Mãe solteira, bêbada, amante de homem casado, usa biquíni nas cores da bandeira. Sou achincalhada em todos os programas de TV, na Ana Maria Braga, nas piadas do Jô Soares na coluna do José Simão.
Humildemente resolvo renunciar ao meu cargo para preservar a minha família.
Decido voltar para onde eu trabalhava antes, voltar a fazer as mesmas coisas as 12.000Km de distancia.
Em meu livro de memórias escrevo que mesmo durante esta fase difícil como ministra no Brasil eu jamais derramei uma lagrima de choro mesmo nos momentos mais difíceis, já no exterior costumo chorar pelo menos 4 vezes por ano, no parágrafo seguinte explico.
É que toda vez que assisto um lançamento, a claridade da combustão do foguete, somado ao seu barulho ensurdecedor e as ondas de choque que fazem seu peito tremer como se estivesse em algum lugar de som muito alto, normalmente me lacrimeja um pouco os olhos, quando isto se soma a emoção que tenho quando vejo um deles subir, isto é fato, eu choro mesmo e não tenho vergonha de esconder.
É por gostar de chorar algumas vezes por ano é que dificilmente voltaria a trabalhar no Brasil.
Sentiria falta deste meu choro sentimental.