Palestras de ganhadores de loteria

Alguns autores mudam a sua forma de pensar. Nassin Nicolas Taleb é um destes autores. No seu livro Fooled by Randomness, para exemplificar um ponto, ele discute a vida de dois vizinhos. Os dois vizinhos obtiveram ao longo da vida o mesmo excelente patrimônio. Um deles é dentista, formado por uma universidade prestigiada e com uma carreira de sucesso. O outro é lixeiro que achou um bilhete premiado de loteria.

Taleb propõe usando a técnica de Monte Carlo simular a vida destas duas pessoas, milhares de vezes. Cada ponto decisivo da vida dos dois (qualidade da infância, saúde, escola, início de carreira, casamentos, separações etc) seria atribuído uma probabilidade e ao final do encadeamento destes eventos seria verificado o patrimônio. Sem surpresas, na maioria das vezes, o dentista teria uma vida confortável. O lixeiro teria o mesmo patrimônio atual com uma probabilidade um pouco melhor do que achar um bilhete premiado (ele poderia casar com uma viúva milionária, ou achar uma mala de diamantes etc).

No TechCrunch assisti a palestra do David Karp. Me perguntei o que eu estava vendo. A história de um bilhete premiado. As chances de acontecer um novo Facebook, Twitter ou Tumblr são ínfimas. A história deles não refletem a realidade de 99,999% dos empreendedores. Estes empreendedores (sem desprezar a sua competência) ganharam um bilhete premiado. Casos únicos de 32 planetas se alinharem para a empresa deles vencerem.

São histórias diferentes das que você percebe lendo sobre a CycladesSAP, Intuit, Pay Pal, Genentech, Intel, ARM ou tantas outras. Nestas histórias o acaso ainda ajudou [se você não tiver sorte, esqueça], mas se usássemos a técnica de Monte Carlo para simular estas empresas, não teríamos uma chance de sucesso próximo a de um bilhete premiado.

Propagar histórias de bilhetes premiados sem darmos o real peso que elas devem ter, somente servem para propagar exemplos que não acredito serem os mais adequados para a sociedade. Não posso comparar a história destes empreendedores com um Gordon Moore, Gates, Jobs ou com um Herbert Boyer (que com sua empresa, ficou bilionário e melhorou a vida de milhões de pessoas).

Sendo assim, não me convide para palestras de ganhadores de bilhetes premiados.

[06/Maio] Inclui o vídeo da Cyclades.

[19/Maio] Comentário Roberto Pinho

a. Faltou dizer que o tal David Karp deve ter ralado, que ralar é fundamental, que tbm sorte não é condição suficiente, que ralar é o comprar o bilhete;

b. [se você não tiver sorte, esqueça] : ficou aberta a possibilidade de que sorte é algo definido a priori, quase místico. No mundo real, vc só sabe se vai ter sorte depois de tentar…

Sobre a tributação das sociedades uniprofissionais

Alguém pode me explicar qual a lógica de uma sociedade uniprofissional de advogados ser tributada por valores fixos? (ex:  1.713,84 para três advogados = 571,28/advogado/mês. ). O faturamento equivalente seria de 571,28/5% =  11.420,00. Quem está reclamando ganha mensalmente mais do que R$ 11.420,00. Qual a razão de uma sociedade uniprofissional de advogados ter este privilégio e um professor de pós graduação que é contratado via PJ não ter este benefício? Ou qualquer outro consultor? A lei não deveria ser igual para todos?

A minha única resposta para isso é lobby de um setor da sociedade muito organizado.

Na mesma linha, qual o benefício para a sociedade das concessionárias de automóveis pagarem 3% de ISS? Serviço de manutenção de automóvel não tem nenhuma concorrência externa. Nenhuma pessoa vai sair de SP para consertar o carro em Salvador por causa de uma diferença de 2% na fatura, então qual a lógica de beneficiar este setor?

 

Notas – Livro / Movimento Maker

Recentemente li o livro Makers do Chris Anderson o que me fez escrever este post.

O aparecimento de impressoras 3D, padronização no formato de arquivos 3D, colaboração no design via internet, comércio via internet, ferramentas gratuitas de modelagem 3D, novas formas de financiamento, makerspaces [hackerspaces] está permitindo uma nova geração de makers (fazedores) e uma nova geração de empresas de manufatura.  É a revolução que já aconteceu na indústria de impressão, música e vídeo chegando aos produtos físicos.

 

  • Empreendedor x Inventor – O inventor antes não tinha capacidade de produção do seu invento, isso está mudando.
  • Internet está popularizando as ferramantes de produção física
  • Popularização das ferramentas de produção
    • Impresso
    • Música
    • Vídeo
    • Produtos físicos
  • Produtos se tornam descrições eletrônicas, quem podem ser compartilhadas, melhoradas, enviadas para uma impressora 3D, máquina CNC ou uma fábrica. Existe uma linguagem única que descreve “G – Code”. Existem sites que compartilham coisas para serem fabricadas ( http://www.thingiverse.com/ http://www.123dapp.com/Gallery/ http://en.wikipedia.org/wiki/G-code). Existem ferramentas gratuitas que permitem a qualquer um projetar algo e produzir ( Autodesk, PTC, 3D Systems. O mesmo processo de melhoria colaborativa que existe nos produtos digitais está sendo transportado para produtos físicos.
  • Produtos físicos estão se descrições em arquivos digitais. Você pode desenhar um brinquedo e mandar via email para ser impresso em outro local.
  • “Hardware is becoming much more like software” – Eric Von Hippel – MIT
  • Nestes softwares, o botão de “Print” é substituído pelo botão de “Make”.
  • Automação vai aumentar é a única forma de competir em custo com mão de obra barata. O que muda é o acesso a novos meios de produção para pequenas manufaturas, com produtos focados e que pode escalar para complexos industriais completos.
  • A grande oportunidade é ser pequeno e global. Você pode fabricar e vender para qualquer local do mundo.
  • Mercado de massa para produtos de nicho. Produtos não precisam chegar a escala de milhões para se tornarem globais. Podem ser focados, vendidos via internet na casa de dezena de milhares.
  • Proliferação de makerspaces. Espaços de produção compartilhados (Techshop é um deles). Shangai está construindo uma centena deles (http://www.engadget.com/2011/11/12/shanghai-science-and-technology-commission-proposes-100-innovat/ ). Em NYC existem oito já em funcionamento. Um programa do DARPA quer levar 1000 destes espaços para as escolas americanas, aprender fazendo – http://blog.makezine.com/2012/04/04/makerspaces-in-education-and-darpa/http://blog.makezine.com/2012/01/19/darpa-mentor-award-to-bring-making-to-education/ – Na Inglaterra – http://www.fablabmanchester.org/ – Ver o projeto Fab Lab do MIT.
  • Etsy – Marketplace para venda de produtos manufaturados – 500 milhões de dólares em vendas em 2011.
  • KickStarter – Site de crowdfunding. O empreendedor publica um projeto com um objetivo de arrecadação e um valor do produto. Se o objetivo é alcançado em 30 dias o valor é debitado do cartão do cliente e transferido ao empreendedor. Resolve três problemas para os empreendedores:
    • Financia a produção
    • Transforma os clientes em uma comunidade. Comprando no KickStarter você está apostando em um projeto e a maioria das pessoas publicam este fato no timeline do twitter / facebook. Estas pessoas colaboram efetivamente no projeto avaliando, divulgando etc.
    • Pesquisa de mercado – cada projeto tem um objetivo de arrecadação. Se não alcança este objetivo o projeto não é executado.
  • O Reilly, editora tradicional na captura de tendências tecnológicas, publica uma revista (Make) desde 2005, faz uma feira em San Mateo com mais de 100 mil pessoas, tem um site (http://makezine.com/) com loja, blog etc alavancando e catalizando este movimento.
  • Redução do custo de entrada na manufatura para algo próximo do que existe para a criação de sites.
  • A geração atual de impressoras 3D tem que ser comparada com a primeira  geração de impressoras a laser
laserw1985 – LaserWriter – US$ 7.000 – 300Dpi hp-atual2012 – HP1102w – US$ 160,00 – 1200 Dpi
makerbot2012 – MakerBot Replicator 2 – US$ 2.200,00

O que vai acontecer 27 anos depois?

  • A impressora a laser revolucionou o mercado de publicações, permitindo a qualquer pessoa ter um impresso de qualidade gráfica. Foi o início da indústria de Desktop Publishing.
  • Você não precisa mais deter os meios de produção, você pode alugá-los.
  • Início de uma indústria que permite você imprimir produtos via Internet. Se você tiver um cartão de crédito, terá acesso a impressoras 3D de altíssima qualidade ou imprimindo em materiais [ainda] não acessíveis para o grande público – Ponoko, Imprima 3D (BR)
  • Importância do Design – Facilitando a produção, o diferencial reside no Design. Tem que ensinar a usar as ferramentas e como se diferenciar ensinando Design. Tem que ensinar ajudar a popularizar estas novas ferramentas.
  • Estas técnicas permitem a produção de lotes personalizados ou individuais. Prototipação e depois se necessário e o mercado responder, massificação usando meios de produção mais tradicionais.
  • Impressão 3D hoje não permite competitividade para larga escala, mas permite que cada peça única seja feita.
  • A indústria de PC’s atual foi originada no Homebrew Computer Club, quais indústrias podem ser criadas ou reinventadas agora?
  • 3D Robotics – de uma rede social no Ning até uma indústria de US$ 5 milhões em 2 anos. Markup de 2,3x
  • “give away the bits, sell the atoms”
  • Open R&D usando a comunidade em volta do produto. Como remunerar os maiores colaboradores? Badges, dinheiro, produto etc. Location 1581 – Gráfico Hierarchy of Reward.
  • A única defesa neste modelo é um ecossistema que se auto-alimenta. Além disso não pode usar o mesmo nome [relativamente frágil]
  • Hazy – PhD Student – começou clonando, acabou colaborando no projeto principal.
  • Local Motors – constrói uma plataforma de carros que outros podem desenvolver melhorias. O sistema de desenho colaborativo ganhou a competição “Experimental Crowd-derived Combat Support Vehicle (XC2V)” do DARPA
  • Nova fábrica da Tesla Motors (inovadora fábrica de carros, com modelos puramente elétricos e uma rede de recarga gratuita baseada em energia solar) é altamente baseada em robôs flexíveis. Não existem máquinas especializadas. No começo da computação os computadores eram especializados, hoje são genéricos e mudam de comportamento baseado em software. Os robôs da fábrica não substituíram postos de trabalhos humanos, estes robôs permitiram construir uma fábrica competitiva abrindo novos postos de trabalho.
  • Ronald Coase – Empresas existem para minimizar custos de transação.
  • Bill Joy – “no matter who you are, most of the smartest people work for someone else” – para minimizar os custos de transação, não trabalhamos com os melhores.
  • Hayek – Conhecimento está distribuído de forma desigual e estruturas centralizadas de planejamento não conseguem capturar este conhecimento distribuído (free markets conseguem)
  • Friedman – NYT – “It used to be that only cheap foreign manual labor was easily available; now cheap foreign genius is easily available”
  • BGC custo liquido de manufatura na China deve equiparar com os EUA em 2015.
  • Custo do trabalho na indústria automotiva – 15%
  • Com aumento da automação o custo de mão de obra diminui de importância em relação a proximidade do consumidor, transporte, flexibilidade, qualidade e confiança.
  • SFMade – San Francisco Made
  • Dependendo da escala pode fazer sentido produzir na china ou nos EUA – Location: 2288
  • Sparkfun – US$ 30 milhões – 50% crescimento/ano – Boulder – kits eletrônicos
  • Desktop Jellyfish Tank, aquários para aguas vivas – US$ 3.000 como objetivo no KickStarter. Em 30 dias levantou US$ 130.000 de 330 pessoas.
  • Pebble, relógio integrado com smartphone – US$ 100.000 como objetivo no KickStarter. Em 3 semanas arrecadaram US$ 10 milhões com o pedido de 85.000 relógios. Durante o processo de 3 semanas a equipe modificou o relógio de acordo com o feedback da comunidade adicionando bluetooth 4.0, a prova de agua etc.
  • TikTok+LunaTik – pulseira para transformar o ipod nano em um relógio de um ex-diretor criativo da Nike. Levantou US$ 1 milhao no KickStarter.  Já entregou mais de 20.000 pulseiras.
  • JOBS Jumpstart Our Business Startups – crowdfunding para participação em empresas. Será regulado pelo SEC. Em processo de estudo / aprovação.
  • Quirky – Designers submetem idéias de produtos que a Quirky fabrica e compartilha os royalties. O designer tem uma idéia mas não sabe produzir para colocar no KickStarter. A comunidade vota os produtos que devem ser produzidos. (crowdsourced market research) A Quircky tem acordos com lojas como Bath, Bed and Beyond etc. Toda semana entra dois produtos em produção.
  • Etsy –  US$ 65 milhões/mês, 300 funcionários. Site de venda de artesenato de altíssima qualidade.
  • BrickArms – Lego não fabrica armas para os seus brinquedos. Os filhos de Will Chapman queriam reproduzir uma batalha da segunda guerra mundial. Ele foi na oficina com uma máquina de CNC, criou os moldes e injetou os brinquedos para os fihos. Virou um negócio e a própria Lego instruiu como deixar os brinquedos mais seguros (ex: furos para evitar sufocamento no caso da criança engolir). Em 2008 ele deixou o emprego e toca somente a BrickArms. Fabrica tudo nos EUA, pois tem certeza que se mandar os moldes para serem injetados na China, será roubado (irão usar os moldes para fabricar itens adicionais e colocar no mercado). Ele atende um mercado que a Lego não quer (política) ou não pode (volume) atender, aumentando o valor do ecossistema Lego. Long tail da Lego. O acesso a uma máquina de CNC de US$ 1.000,00 mais a web para vender permitiu a criação desta empresa que talvez não pudesse existir a 10 anos atrás.
  • Square – empresa de pagamentos – Início em Maio/2010, processa US$ 10 bilhões em pagamentos por ano. O dispositivo Square foi prototipado em uma TechShop. O sócio McKelvey realizou a prototipação pessoalmente para entender o processo de fabricação, prós e contras antes de terceirizar para larga escala.
  • MFG.com – Sistema de procurement para indústria. Você envia o RFQ (Request for Quote) com os arquivos de engenharia  e as empresas concorrem para fabricar o seu produto ou protótipo. A Blue Origin (empresa aeroespacial de Jeff Bezos, dono da Amazon), usou o serviço, gostou, trouxe o Bezos para analisar que comprou uma participação dois meses antes da Dassault. 200.000 membros, 50 países, 115 bilhões transacionados / ano.
  • Shanzai – bandit – “um fabricante ou comerciante que opera um negócio sem observar as regras ou práticas tradicionais normalmente resultando em produtos ou modelos de negócios inovadoras e incomuns”. Fazem 250 milhões de celulares por ano, cópias de iPhones ou Androids. São os fornecedores dos celulares com dois ou três chips. http://en.wikipedia.org/wiki/Shanzhai
  • DIY Bio – a próxima fronteira é biotech
  • Where Will the Jobs Come From?  – Renascença da manufatura nos EUA

grf2

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  • O tipo de solda que é feito nos estados unidos precisa de conhecimento de matemática – soldador é STEM (Science Techonology, Engineering, Math) hoje.
  • Existe uma aposta no aumento da produtividade da manufatura, em um movimento semelhante a da agricultura nos EUA
  • Foxconn na China já está migrando de gente para robôs. – http://news.cnet.com/8301-1001_3-57549450-92/foxconn-reportedly-installing-robots-to-replace-workers/?part=rss&subj=news&tag=title
  • That is not to say college education will not be useful, but it is increasingly going to have to be an education that has a focus and goal of a marketable skill.
  • NASA planeja imprimir partes do próximo foguete pode incentivar tendência de manufatura.
  • http://labdegaragem.com/ – começa a se formar uma rede de fornecedores no Brasil, com a idéia de laboratório de garagem.
  • MakerShow – marketplace de fábricas – http://makersrow.com/ – mais focada na indústria de confecção.
  • Indiegogo – semelhante ao KickStarter – http://www.indiegogo.com/spuni
  • http://printrbot.com – impressora 3D – 350 dólareshttp://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=why-3d-printing-matters – Matéria na Scientific American – Aposta do governo dos EUA neste movimento – Why 3D Printing Matters for ‘Made in USA’ – The federal government plans to increase funding to institutions researching 3D printing, a technology the White House hopes will boost U.S. manufacturing

A ANCINE em apoio ao blockbuster e à concentração de mercado.

por Renné Dvorak

A ANCINE através da sua IN 105, pretende cobrar, a cada 5 anos, R$3 mil por cada filme disponibilizado por demanda.

O último blockbuster, como o Homem Aranha pagará R$3mil, o filme iraniano de arte, os mesmos R$ 3 mil. A conta é simples: para o milhões de potenciais espectadores de O Homem-Aranha, o custo será irrisório, centavos, se isto. Já o filme de nicho, pode ter seu custo elevado. Se só mil assistirem, R$3,00 por cabeça.

Mas esta análise é feita posteriori. Três reais nem é tanto assim, pode-se argumentar. O grande dano acontece antes: o imposto pode influenciar na decisão das empresas de oferecer obras de nicho que podem ter muito pouca audiência. Sob este aspecto, o retorno do investimento para o Homem Aranha torna-se muito maior.

Um outro efeito potencial é o da concentração de mercado. Se temos duas empresas oferecendo catálogos muito semelhantes, a união de ambas em uma só cortará o custo com esta taxa à metade.

O recado da ANCINE é claro nesta IN: queremos grandes conglomerados que ofereçam filmes destinados a grandes audiências. Se você é um pequeno distribuidor especializado em filmes de nicho, problema seu.

Jobs sobre IBM

Is there anybody out there?

Lendo estes post sobre IBM pelo Cringely achei esta pérola jobsniana.

“If you were a product person at IBM or Xerox, so you make a better copy or a better computer, so what?” Jobs asked rhetorically. “When you have a monopoly market share the company is not any more successful.   So the people that can make the company more successful are sales and marketing people and they end up running the companies and the product people get driven out of decision making forums.  And the companies forget what it means to make great products.  Sort of the product sensibility and the product genius that brought them to that monopolistic position gets rotted out by people running these companies who have no conception of a good product versus a bad product.  They have no conception of the craftsmanship that’s required to take a good idea and turn it into a good product and they really have no feeling in their hearts usually about wanting to help the customers.”

Aproveitando a deixa, melhor texto que li sobre Jobs aqui. Veja a relação de ódio e vingança na Next vs amor na Pixar.

Sobre Salvador (por Fredie Didier Jr.)

(este texto abaixo não é meu, mas concordo com ele 100%. O autor é Fredie Didier Jr.)

 

Ouvi de um guia grego que o legado histórico da Grécia não são seus monumentos, que são poucos, mas, sim, as suas ideias. Na Grécia, os monumentos que existem representam ideias que já existiam. Os anfiteatros gregos foram construídos para servir ao teatro que já se praticava – o teatro precedeu o anfiteatro. As ideias, disse-me, devem preceder os monumentos.
Lembrei-me de monumentais estádios de futebol sendo construídos em cidades que não possuem futebol profissional; belas e imensas esculturas de mármore representando canalhas etc. Monumentos que precedem ideias. Lembrei-me, ainda, de episódio de “O Bem Amado”: Odorico Paraguaçu inaugurando o cemitério, a maior obra de sua gestão, o seu mais grandioso monumento, construído em uma cidade em que ninguém morria.
Lembrei-me da minha cidade, com tristeza e melancolia. Salvador não passa por um bom momento histórico.
Não falo da crise em sua monumentalidade: Pelourinho abandonado, metrô inacabado, ruas sujas. Embora grave, este tipo de problema é de solução mais fácil.
Não me refiro, igualmente, à violência que nos assola. A violência impressiona, mas não destoa do que acontece em outras metrópoles.
Falo de outra espécie de crise, mais profunda e de efeitos mais deletérios. Salvador está em crise existencial.
Salvador foi, entre as décadas de 40 e 60 do século passado, um dos dois maiores polos culturais do Brasil. Caracterizava-se por uma efervescência criativa impressionante. Edgard Santos, na UFBA, era o grande timoneiro, trazendo à Bahia figuras como Agostinho da Silva, Eros Martim Gonçalves, Lina Bo Bardi, Ernst Widmer, Hans Koellreutter, Lia Robato e Yanka Rudzka. Em um mesmo local e uma mesma época, Diógenes Rebouças, Walter da Silveira, Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger, Mário Cravo, Floriano Teixeira e Pancetti podiam ser vistos caminhando pela cidade. Machado Neto, jurista inigualável, assombrava; Milton Santos já mostrava o talento de quem se tornaria um dos maiores geógrafos do mundo. Para não falar da Ângulos, na Faculdade de Direito.
Não por acaso, logo apareceriam a Tropicália e o Cinema Novo. A primeira, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duarte e Capinan, no final da década de 1960, um movimento cultural vanguardista essencialmente baiano; o segundo, com Glauber Rocha, entre o final dos 50 e o início dos 60, que teve em Salvador um dos seus centros de influência. Isso sem falar de Maria Bethânia cantando Carcará e de João Ubaldo Ribeiro iniciando sua vida profissional. Não faltavam ideias, não faltava ousadia, não faltava gente. Era a “vanguarda na Bahia” (Antônio Risério).
Mas, de alguns anos para cá, Salvador parece que perdeu o viço. A cidade, que “começou a existir para que o Brasil existisse” (Antônio Risério), apequenou-se.
O que marca Salvador atualmente? Quais as nossas ideias? Qual a nossa contribuição? De que modo interferimos no Brasil e no mundo?
Temos de retomar a nossa caminhada e refundar a cidade. Dar início a uma espécie de Renascença soteropolitana. Construir uma Recidade, como talvez dissesse Gilberto Gil.
É preciso fazer com que competência, criatividade, ousadia, inventividade, esmero, beleza, talento e dever sejam considerados valores indispensáveis ao desenvolvimento da cidade.
É preciso que o rigor não seja interpretado como tirania, o refinamento, boçalidade, e a inteligência, um insulto. Êxito, sucesso, prestígio não podem ser motivo de anátema. Temos de reconstruir a semântica da nossa convivência, para que ambição e vaidade sirvam para compor frases sem teor pejorativo. É preciso resgatar a ambição pela excelência e a vaidade do fazer bem feito.
Quem sabe, assim, “a seta” da cidade “acerta o caminho e chega lá”, como diz Caetano. Nessa canção, Caetano dirige-se à cidade e pede a ela que insista no que é lindo e, então, “o mundo verá tu voltares rindo ao lugar que é teu no globo azul, Rainha do atlântico sul”.
Salvador merece que façamos tudo isso por ela e a gente merece voltar a sentir orgulho da nossa cidade.

Genome Startup

Imagine uma iniciativa que tenha o objetivo de transformar empreendedorismo em ciência.

Que o líder desta iniciativa tenha este objetivo pela simples razão de ter sempre perseguido as grandes tendências, envolvido no Institute for the Future e na Singularity University. Ele também é membro da Sandbox Network.

Que ele tenha chegado a conclusão que o problema do mundo não é pobreza ou qualquer outra doença. O problema é não termos gente suficiente trabalhando nestes problemas e que a forma mais correta de corrigir isso seria escalar o empreendedorimo, transformando-o em processo com ferramentas e um corpo de conhecimento.

Imagine que o líder desta iniciativa chamada Genome Startup é Max Marmer e que ele tem  18 anos de idade. Veja o site e o paper de 50 páginas com as primeiras conclusões dos estudos dele e de sua equipe.