Falhas de mercado e o financiamento a invenção (inovação)

Eu sempre me surpreendo com alguns documentos que eu encontro nos EUA tratando de politica pública em ciência, tecnologia e inovação. “Economic Welfare And The Allocation of Resources For Invention” do Kenneth Arrow da RAND Corporation, tratava em 1958 do financiamento a invenção.

Ele em primeiro lugar define invenção como um processo de produção de informação. Com esta definição ele divide o problema em dois:

  • A análise do risco do processo de produção da informação (sucesso ou não);
  • As características econômicas do bem “informação”.

O processo de produção de informação é extremamente arriscado. Qualquer companhia vai tentar mitigar o risco. Uma forma de você eliminar um risco é comprar um seguro. Como ninguem financia seguro para  insucesso de pesquisa e desenvolvimento, as empresas não podem se defender deste risco, logo os gestores vão alocar recursos não ótimos ao processo de inovação. Trazendo para a nossa realidade que você tem um ativo para investimento sem risco  com retorno de 13% ao ano (dobra o capital em cada 5/6 anos), quem vai investir em algo tão incerto como inovação?

O produto da inovação é informação. Como se apropriar da informação de forma que você possa comercializá-la? Patentes, copyright etc. Neste ponto o autor discute vários aspectos interessantes sobre a informação que hoje é corrente na discussão de patentes ou software livre. O autor fala que do ponto de vista econômico a melhor decisão é distribuir a informação gratuitamente, pois o custo de distribuição marginal é zero (gente, ele falou isso no meio da guerra fria, nos estados unidos, isso é quase comunismo 🙂 ). Ele discute o problema de como remunerar a pessoa que correu o risco na descoberta desta informação. Ele discute que possivelmente o único meio do detentor da informação manter propriedade é mantê-la em segredo e usá-la em um processo fabril dentro da própria organização ( se eu descrevo em uma patente, eu dou a pista de como chegar lá… ). Discute a indivisibilidade da informação e por causa disso como medir a contribuição dos outros na criação deste novo pedaço de informação “standing on the shoulder of giants“. Todos os argumentos normalmente usados pelo pessoal de open source, contra as patentes etc etc etc está lá. (e todos a favor também… o cara me parece ser honesto intelectualmente… sem muitos dogmas…)

De posse destes dois elementos ele conclui que o setor privado nunca vai alocar parcelas ótimas de capital no financiamento da inovação e parte para discutir como o setor público pode alocar recursos. O processo de financiamento da inovação com base em custo, financiamento da indústria militar americana etc etc etc também esta lá.

Sempre me surpreendo com a qualidade deste tipo de documento na formulação da política pública americana. Recentemente achei este blog. É do diretor do comitê do orçamento do congresso americano. Ele descreve a audiência sobre o orçamento de saúde nos EUA. E destaca o seguinte:

A growing body of research on behavioral economics suggests that, in addition to financial incentives, norms and default options can exert a strong influence on individuals’ choices. Such findings could inform efforts to improve efficiency in the health sector.

  1. Quantas vezes você já ouviu falar que uma comissão do senado brasileiro ouviu alguem para tomar alguma decisão relevante? E que este depoimento estava público?
  2. Quantas vezes você já viu nestes depoimentos alguem mencionar uma têndencia de pesquisa acadêmica para subsidiar uma decisão de politica pública?

Nunca? Nem eu.

Bola pra frente…

Fundos de Venture Capital Privado e Público.

Paper do NBER (National Bureau of Economic Research) comparando a performance de venture capital privado e público. As análises anteriores focavam somente no retorno para o investidor. Nesta análise foi incluido parâmetros como probabilidade e tamanho da oferta pública de ações ou fusão e aquisição, e inovação usando como proxy o número de patentes.

Os dados foram coletados no Canadá. Eles atribuem a diferença da performance ao processo de seleção e critérios entre os fundos privados e os que tem apoio público.

http://www.nber.org/papers/w14029

Power to the people

Eu tenho um amigo que é editor de vídeo. Há dez anos para trabalhar tinha que estar empregado em uma produtora de vídeo, usando uma estação analógica ou o supra sumo do consumo uma estação de edição não linear Avid.

Da última vez que conversamos (uns cinco anos atrás) me lembro que ele estava estupefato, pois já conseguia trabalhar em casa. Com o próprio salário ele tinha comprado dois PC´s completamente equipados para trabalhar em casa. Ele era dono do seu próprio meio de produção. Não existia mais o profissional “escravo” do empresário, pois não tinha acesso ao meio de produção que somente poderia ser comprado com largas quantidades de capital (capitalista / investidor). (estou marxista hoje)

Passou o tempo. Este tipo de profissional viu que a Internet pode ser utilizada para distribuir o conteúdo que eles geram. Escritores fizeram blogs, lançam livros e são convidados pela Folha de São Paulo para assinar uma coluna. Músicos usam o MySpace. E o pessoal de vídeo usa o YouTube. Os participantes da creative class deveriam agrader a lei de Moore.

E o que três designers gráficos com quatro dias de trabalho conseguem fazer? Uma versão homemade da cena principal do Resgaste do Soldado Ryan. Vejam abaixo o making off:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=WRS9cpOMYv0[/youtube]

O Paul Graham tem um texto com excelente sobre o assunto. Se chama The Power of Marginal. Ele comenta como o Apple II nasceu em um momento de mudança de paradigma semelhante. Quando, por causa do microprocessador, qualquer pessoa poderia construir o seu computador (HomeBrew Computer Club) e um grupo conseguiu construir uma indústria de computadores por causa disso (Apple).

Um ponto importante no texto do Paul Graham é o momento que ele discute audiência. Se você fosse um jornalista ou editor você precisa de alguem para publicar o seu texto. E a decisão de quem vai para capa é a maior forma de manipular a mídia, sem manipulação do conteúdo. Se você fosse um músico, você precisava de uma gravadora. Hoje com Internet isso muda um pouco, olhem abaixo:

Now, thanks to the Internet, they can start to grow themselves actual audiences. This is great news for the marginal, who retain the advantages of outsiders while increasingly being able to siphon off what had till recently been the prerogative of the elite.

The big media companies shouldn’t worry that people will post their copyrighted material on YouTube. They should worry that people will post their own stuff on YouTube, and audiences will watch that instead.

Murdoch já percebeu isso. Ele não processa quem disponibiliza vídeos do seu conglomerado de mídia no YouTube. Ele declarou isso na última All Things Digital realizado por Wall Mossberg do Walt Street Journal (que o Murdoch comprou…). A lógica é simples. No final as pessoas estão assistindo o conteúdo dele. Ele tem mais medo que parem de assistir o conteúdo do que roubem.

Power to the People.

Desce do trono academia…

Vejam esta entrevista do Larry Page na Fortune, olhem este trecho:

You don’t want to be Tesla. He was one of the greatest inventors, but it’s a sad, sad story. He couldn’t commercialize anything, he could barely fund his own research. You’d want to be more like Edison. If you invent something, that doesn’t necessarily help anybody. You’ve got to actually get it into the world; you’ve got to produce, make money doing it so you can fund it.

De que adianta inventar sem mostrar para o mundo? Sem contribuir de forma efetiva para a sociedade? Você prefere ser Edson ou Tesla? Realmente, a história de Tesla é muito triste.

Que todos os acadêmicos e inventores saiam dos seus laboratórios, dos seus pedestais, que consigam vender, assim como a rainha da música de Arnaldo Antunes:

Desce do trono, rainha
Desce do seu pedestal
De que te vale a riqueza sozinha
Enquanto é carnaval

Desce do sono, princesa
Deixa o seu cetro rolar
De que adianta haver tanta beleza
Se não se pode tocar?

Hoje você vai ser minha
Desce do cartão postal
Não é o altar que te faz mais divina
Deus também desce do céu

Desce das suas alturas
Desce da nuvem, meu bem
Por que não deixa de tanta frescura
E vem para a rua também

JusBrasil Notícias Jurídicas

A empresa de busca baiana Goshme lança essa semana o JusBrasil Notícias Jurídicas (www.jusbrasil.com.br/noticias) um buscador vertical para notícias do direito brasileiro. Nele o usuário pode ver as notícias mais relevantes do dia, atualizadas minuto a minuto, e buscar por entre mais de 100 fontes especializadas.

O JusBrasil Notícias é o primeiro passo em direção a um projeto ainda maior, o JusBrasil Busca Jurídica, a ser lançado ainda esse ano, e que irá agregar em um só local não só notícias da área mas também todas as outras esferas da informação jurídica: legislação, jurisprudência, doutrina, informação dos diários oficiais e dicionários jurídicos.

O poder do telefone celular para combater a pobreza

Tem dois anos que um amigo indicou-me uma conferência nos EUA chamada TED. Depois deste dia tive uma oportunidade única de assistir excelentes palestras. Eu tenho outra sorte. Eu tenho amigos (Roberto Pinho – As Coisas) que inventam umas idéias malucas e eu topo. Traduzir alguns vídeos do TED. São vídeos que consideramos que devem ser vistos aqui no Brasil. Que injetam novas idéias e fazem a gente refletir.

O vídeo não está perfeito, vcs vão dar risada de alguns trechos, mas a idéia principal está clara. Quem quiser ajudar pode colaborar de duas formas. Se achar relevante, ajude a espalhar a mensagem do vídeo. Se achar um vídeo do TED que você ache importante, ajude a traduzi-lo. O primeiro que a gente traduziu foi o do Iqbal Qadir:

“O poder do telefone celular para combater a pobreza”

Qual a razão da pobreza continuar existindo apesar das décadas de ajuda internacional? Nesta palestra, Iqbal Qadir explica: “esta ajuda internacional causa danos, pois amplia o poder das autoridades no lugar do povo” e advoca uma nova abordagem para desenvolvimento: “do povo para o povo”. Sua própria experiência como uma criança em Bangladesh e depois como um banqueiro em New York levou-o a realizar que “conectividade é produtividade” — e que um simples telefone celular tem um enorme poder. Hoje sua companhia de telefonia celular, GrameenPhone, oferece serviço para a maior parte da Bangladesh rural, criando novas oportunidades conectando vilas ao mundo.

Original em http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/79

América Latina para trás

Do blog do Luis Nassif

“(…) 1) Muitos latino-americanos acreditam que suas grandes universidades estatais são excelentes, mas na realidade elas são medíocres.

(…) 2) À medida que o número de alunos asiáticos nas faculdades dos EUA aumenta, o número de latino-americanos cai. A Índia tem 84 mil estudantes em faculdades americanas; a China, 68 mil; a Coréia do Sul, 62 mil. E a porcentagem de alunos asiáticos subiu 5% em 2006. Já o México tem apenas 14 mil alunos nas faculdades americanas. O Brasil tem 7 mil e a Venezuela, 4.500. Além disso, o número de estudantes latino-americanos caiu 0,3% no ano passado.

3) Enquanto os países asiáticos e do Leste Europeu estão produzindo engenheiros e cientistas em massa, a América Latina produz um grande número de psicólogos, sociólogos e cientistas políticos.”

Veja aqui

Por que o Brasil é ruim de inovação?

Este texto do Clemente Nóbrega é excelente, pois vai além das questões óbvias que levam a uma determinada sociedade ser inovadora.  Pode um país conhecido pelo jeitinho brasileiro ser inovador? Um país baseado em cartórios? Eu sinceramente vou acreditar muito mais no Brasil no dia que os cartórios perderem 90% das funções que exercitam. O cartório para mim é o ápice de como um brasileiro não confia no outro, necessitando que um terceiro autentique documentos e firmas.

Bom texto