Balanced Scorecard, Métricas de Software, PNQ, ISO, CMM. Voc acredita?

Livro Metricas e Gerencia de PessoasMeasuring and Managing Performance in Organizations é um dos melhores livros que já li e deveria ser obrigatório para quem pensa, trabalha ou se relaciona com qualquer um dos assuntos acima. Oriundo de uma tese de doutorado premiada da Carnegie Mellon (berço do CMM) o livro cria um modelo simples com três participantes. Um chefe, um empregado e um cliente. Ele analisa o empregado que realiza um trabalho composto de várias atividades. Algumas são fáceis de serem medidas, outras não. O melhor resultado para o cliente é obtido com uma combinação destas atividades. No caso do chefe medir algumas destas atividades e não medir outras, ocorre uma disfunção, pois o empregado vai privilegiar a atividade que é medida, ignorando ou relegando as outras atividades, neste caso, apesar das mátricas estarem indicando um mar de rosas, o resultado final para o cliente não está. Ocorreu uma disfunção.Normalmente a resposta simplória para lidar com este problema, é criar um novo conjunto de medidas que monitorem todas as atividades. O autor mostra de forma repetitiva a quase impossibilidade de se alcançar este objetivo para trabalhadores criativos. As atividades não são repetitivas e fáceis de serem medidas. Aliás, boa parte do nosso fetiche por medidas é originário da nossa herança do modelo industrial que o trabalho é dividido no formato de Taylor. Taylor dividia o trabalho em pequenas partes que pudessem ser medidas e otimizadas. Funciona no caso dele pois o trabalho é repetitivo, mas alguem acha que o trabalho de design é repetitivo? Como medi-lo?

O autor não invalida completamente o benefício das medidas, mas ele discute largamente a questão se a medida é para gerar informação ou motivação. No primeiro caso, existem chances de sucesso. No segundo, o sistema sempre tenderá a ser burlado.

Um outro problema que pode ocorrer com a utilização de medidas motivacionais e a utilização de remuneração baseada nestas medidas. Um empregado que é motivado intrisicamente (o melhor tipo) quando submetido a um sistema de medida, pode quebrar a boa relação dele com a empresa e passa a ficar atento somente ao quadro de indicadores. Caso o quadro de indicadores não capture todas as facetas do trabalho de forma perfeita, estamos no inicio de um processo de disfunção. Você vai ter sorte se os seus empregados não se submeterem as suas medidas que podem ser estúpidas. (veja o caso no desenvolvimento do Macintosh e do WindowsMicrosoft programmers also became frustrated with IBM’s bureacracy and its use of lines of code to measure programmer productivity”). Não dê risada, o LoC do passado pode ser o nosso Ponto de Função de hoje.

O que ocorre com isso? Os melhores funcionários que são motivados internamente, no momento que você submete um sistema de medidas motivacionais, ele se desmotiva. Os funcionários medianos estarão sobre a pressão do seu sistema e vão tentar burla-lo de forma sistemática.

O autor continua a discussão passando por várias facetas. Ele não condena completamente os sistemas de medidas e discute como tentar implementá-los de forma eficiente, mas ele bate muito duro na dificuldade inerente deste processo. Um ponto interessante é a questão de utilizar um sistema puramente informacional que ele defende de forma sistemática. Neste caso as pessoas teriam confiança na organização e não burlariam o sistema de métricas. O autor entrevista uma série de pesquisadores da indústria e da academia sobre métricas de software. Ele utiliza a área de métricas de software para ilustrar o trabalho, pois é uma área que é complicada de se medir o resultado do trabalho e mesmo assim é amplamente estudada. Sobre o uso dos dados para gerar informação, sem gerar uma caça as bruxas o De Marco fala:

“It could be like the end of the Weimar Republic: The Weimar Republic had collected all kinds of data about names, addresses, and religions of people. Theu knew all the Jews were, and the census data was put to use by the Nazis.”

Ou seja como evitar que os dados coletados sejam utilizados para uma caça a bruxas? Ele no livro comenta de um caso de um sistema informacional que estava funcionando perfeitamente até a chegada de um vice-presidente na sala em que ficavam os gráficos. O vice-presidente achou aquilo tudo muito interessante e anotou alguns comentários. Depois deste dia o sistema foi por agua abaixo.

Um dos capítulos é chamado de The Measurements Disease ele analisa prêmios e programas como o Malcom Bridge (o nosso PNQ), ISO 9000 e CMM. O tí­tulo do capítulo já revela o que ele acha destes programas.

Ele tambêm tem um capítulo dedicado ao cinismo das medidas. Ele elabora um raciocí­nio que em muitas organizações as medidas já são realizadas de forma que proteja a própria gerência e assim se perpetuam estas pessoas.

Finalmente quando ele entrevista os oito experts da área de métricas de software acontece um padrão interessante. Ele divide os entrevistados em dois grupos. De um lado está o grupo da indústria, do outro lado o grupo da academia e de consultores. O grupo da indústria concorda amplamente com o modelo que ele propôs e as disfunçõees causadas por programas de medidas ao contrário do grupo de consultores que discorda do modelo e acha que medidas somente causam disfunções se mal implementadas. Somente um consultor concordou com o modelo dele. Em suma. O pessoal da indústria sofre na pele os sistemas que implementam. Os consultores implementam o sistema em um lugar e partem para a próxima. Em quem você confia mais? Ou parafreseando o Alan Greenspan quando discutia com algumas pessoas: “Se eu conseguisse convencê-lo de que seus argumentos estão errados, você teria condições de, no atual emprego, mudar de opinião?” (ele nunca perguntou isso, mas já teve vontade, citando nominalmente o Craig Barret, da Intel, sobre a forma de contabilizar opções e o premier da China, Li Peng, sobre capitalismo x comunismo. Será que um consultor pode mudar de opinião considerando o atual emprego?)

Finalizando. Não nos esqueçamos da frase do Churchill. “It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.” Ou seja, métricas estão aí­ para ficar, não conseguimos inventar nada melhor, é necessário medir o que é feito. A única questão: não criar um fetiche por estes números e entender que implementar um sistema de medidas é intrisicamente difícil. Como prêmio para quem chegou até aqui neste longo post, eu deixo o último capítulo do livro, são somente 3 páginas (1.3Mb).  A Difficult But Solvable Problem

195.000 dólares em uma semana

É quanto um jogo já faturou no XBox Live Arcade. O pessoal está chamando de YouTube dos jogos. Eu acho que a comunidade de jogos no Brasil (e a nascente comunidade baiana) deveria olhar com carinho esta iniciativa da Microsoft. É uma excelente forma de distribuição de jogos e que automaticamente atinge um número monstruoso de possíveis usuários.

Procurando um pouco mais sobre este assunto achei os seguintes ponteiros que podem ser úteis:

  • Um blog somente voltado a parte comercial de jogos em geral. Ele tbm comenta sobre o Live Arcade aqui.
  • O comentário de um desenvolvedor sobre o processo de aprovação da entrada de jogos no Live Arcade.

Etanol Celulósico

Já comentei anteriormente, a vantagem competitiva do Brasil em relação ao etanol pode ser dizimada se conseguirem um processo eficiente para etanol celulósico.

O Vinod Khosla, investidor americano divulgou hoje que uma das suas empresas investidas está construindo a primeira planta de produção comercial de etanol celulósico. O jogo neste caso é o processo mais as enzimas utilizadas para conversão da celulose em alcool. Caso a gente domine, poderemos extrair alcool da cana e do bagaço dela. Caso contrário, talvez eles consigam metódos mais eficientes de produção de alcool e para a gente continuar no jogo deveremos importar esta tecnologia, exportando em forma de $$$ o nosso antigo diferencial competitivo.

A influência da NASA no Silicon Valley

Ontem estava no EsAEx ministrando uma palestra e participando de uma mesa de debates. Lógico que em um determinado momento entrou na pauta o assunto compras governamentais. Minha opinião: compras governamentais direcionadas devem ocorrer nos casos de demandas qualificadas para que as empresas adquiram novos conhecimentos e se tornem mais competitivas. Não é comprar mais do mesmo, é comprar algo inexistente e inovador com uma demanda qualificada e objetivo claro. Você quer um objetivo mais claro do que colocar um homem na lua?

Por um acaso, saiu na News.Com uma matéria sobre a influência da NASA no SV. Olhe estes dois trechos mostrando momentos completamente diferentes.

Primeiro momento:

“Several companies in what would become Silicon Valley benefited from the ambitious goals and budget largesse of the Apollo space program,” said Dag Spicer, the senior curator of the Computer History Museum, in Mountain View, Calif. “The stringent quality and performance requirements of (integrated circuits) for Apollo allowed early semiconductor companies to learn at government (that is, public) expense, a technology that would soon have broad application and whose price would plummet as these companies perfected manufacturing methods.”

E em um segundo momento, o cliente governo não era mais desafiador, o mercado já demandava mais que o governo:

“The irony of these early contracts was that, while they were welcome in the early 1960s (when) semiconductor companies were learning how to make integrated circuits, by 1970, government/military work was frequently viewed as a damper on profits and innovation since it took people and resources away from research and development into newer and more profitable commercial products.”

Relatório Reservado – 21 Vidas de Alcantara

Mais Elizabeth abaixo. Vocês se lembram quando ocorreu o acidente da TAM e alguns dias depois os diretores da ANAC receberam condecorações da Aeronáutica? O que aconteceu com o responsável pelo lançamento do VLS?


Um colega em outro forum, mandou este link com imagens de um acidente com um foguete chines tempos atrás.

Abaixo um comentário meu sobre o assunto.

Este acidente de 1996 foi um divisor de aguas no programa espacial chines, ele causou cerca de 50 vitimas. Também não foi o começo do programa Longa Marcha, o primeiro lançamento destes foguetes aconteceu em 1970, até hoje cerca de 104 deles já foram lançados.

As causas deste acidente estão associadas a um erro de programação da referencia inercial do foguete durante a contagem regressiva.

A doutrina de segurança do programa espacial chines é uma das melhores atualmente, a conheço bem.

Um ano antes, em 1995, um acidente na plataforma de lançamento em Kourou matou 2 pessoas

Em 2001 tivemos a morte de um técnico nos EUA por acidente na plataforma de lançamento.

Os EUA não perdiam gente em acidentes na plataforma de lançamento desde 1981 durante a operação de preparação de lançamento da primeira missão do Space Shuttle.

Nestes 2 acidentes, o de 1981 nos EUA, 1995 na Guiana Francesa, aconteceu um dos maiores perigos dos foguetes movidos a hidrogenio liquido, que é a Hypoxia. Como o hidrogenio é muito pouco denso, e sempre vaza mesmo em pequenas quantidades, muitas regiões do foguete são “irrigadas” com nitrogenio, que expulsa o hidrogenio e oxigenio da região (normalmente perto dos impulsores e das valvulas de controle) durante a fase de contagem regressiva. Paralelo a isto, são necessarios trabalhos de inspeção nestas regiões, trabalho que as vezes tem que ser feito pelo olho humano, e ai a tragédia acontece, pessoas inspessionando areas onde existe baixa concentração de oxigenio, e alta concentração de nitrogenio.

Em 2002 um lançador Soyuz não tripulado, explodiu pouco após deixar a plataforma em Plessetsk, matando um jovem soldado de 20 anos que fazia a guarda perimetral da area de lançamento, e descumpriu os procedimentos de segurança que ditam ficar atrás de uma proteção de concreto durante a decolagem, o jovem soldado se expos para visualisar a decolagem do foguete.

Além do acidente do VLS, estes foram os ultimos acidentes envolvendo pessoal em terra na presença do foguete lançador.

Acidentes sem vitimas são mais comuns, a propria China perdeu um CZ-1D, a Rússia chegou a perder 4 lançamentos em 2005, de um total de mais de 40. Os acidentes com foguetes americanos também aconteceram, embora eu tenha mais facilidade para me lembrar de cabeça dos acidentes russos e chineses.

A média normalmente é perder um a cada 25 ou 30 dependendo do foguete.

A questão não é perder foguetes, isto acontece, a questão é o que fazer quando isto acontece.

A 2 anos na Russia haviam problemas crônicos de segurança em uma base de lançamento em especial, o problema não eram os foguetes e sim os processos, o presidente Putin pessoalmente cobrou dos seus agentes espaciais soluções para isto. Em 90 dias tudo estava resolvido, com a mobilização de todos os envolvidos no programa espacial, era uma epoca que se trabalhava 14 horas por dia para revisar todos os processos, no final do ano estava pronto, a Russia lançou 8 foguetes entre lançadores e misseis balisticos, de 3 bases diferentes, em apenas uma semana, todos com sucesso, validando todos os procedimentos novos de segurança. Putin recebia relatorios diarios sobre os trabalhos, e cobrava pessoalmente resultados.

Quando a NASA perdeu seu ultimo onibus espacial, 50 pessoas em cargos de diretoria e alta gerencia perderam os empregos nos meses seguintes.

Quando o VLS explodiu, ninguem perdeu o emprego, o brigadeiro que comandava a operação de lançamento ganhou uma promoção tempos depois.

O relatório oficial do VLS nunca apontou a verdadeira causa do acidente. Existe outro relatório reservado com teor dirente do oficial. A FAB era contra a formação de uma comissão indepentente.

Nunca ninguem foi condenado pelas 21 vidas perdidas em Alcantara.