Um dos maiores segredos do Vale do Silício: Bill Campbell

Eu estava no TechCrunch 2013 em San Fran levando a Agilize Escritório de Contabilidade Online para o Startup Alley e tive a oportunidade de ver a entrevista do Marc Benioff (Salesforce.com) com o Michael Arrington. O Arrington tem a propriedade de colocar os entrevistados contra a parede, como quando entrevistou Fred Wilson e provocou-o a falar que muitos empreendedores de sucesso tinham personalidades limítrofes e que em alguns casos alguns já cometeram crimes (isso foi no TechCrunch 2013 NYC – veja matéria no Startupi).

O Arrington estava seguindo o seu script usual com Benioff quando provoca-o sobre Larry Elisson, da Oracle. Benioff diz de forma clara que Elisson é um dos mentores dele e que não tem mais ninguém no mundo dos negócios com quem ele aprendeu mais e que ele tem gratidude imensa pelas lições de negócios aprendidas.

Depois, Arrington provoca Benioff sobre Steve Jobs, tentando colocar Benioff contra os executivos atuais da Apple. Neste momento, Benioff fala que foi funcionário da Apple (programou jogos em Assembly para o Mac original) e que Steve Jobs também foi um mentor dele. Ele explica que muito do que foi criado na Salesforce foi provocação de Jobs e fala de forma bastante emocionada sobre a relação entre eles.

Ele comenta que, ao final do funeral de Jobs, todas as pessoas ganharam o livro “Autobiografia de um Iogue”, de Yogananda. O cerimonial foi planejado pelo próprio Jobs. E revela como Jobs foi um guru para o Benioff. Toda vez que o Benioff tinha um problema maior, ligava para Jobs que o ouvia, ajudava, provocava, etc. Veja o vídeo e veja que a marca da AppStore era do Benioff, que doou para o Jobs por uma boa razão. E veja como ele critica o filme sobre Steve Jobs, dizendo que não faz honra ao lado espiritual da personalidade de Jobs; que o filme traz um lado real e sensacionalista de Jobs, mas que manda uma mensagem errada para empreendedores.

Mentor-mor dos mentores

A forma como Benioff é grato a Elisson e principalmente a Jobs, tratando-os como mentores, me impressionou. Assim como me impressionou a figura do Bill Campbell no livro de Ben Horowitz. Se tem algum livro sobre empreendedorismo que você deve ler, leia o do Horowitz (The Hard Thing About the Hard Things).

No livro do Horowitz, fica claro o papel do Bill Campbell nos momentos mais críticos de sua vida. Era o mentor, alguém que discutia caminhos. Campbell pode ser considerado um dos maiores segredos do Silicon Valley. Ele é considerado o mentor dos mentores.

Quem foi VP de Marketing da Apple contratado por Sculley e continua na Apple até hoje e sempre caminhava com Jobs?
Bill Campbell.

Quando os investidores pensaram em tirar Bezos da presidência da Amazon, quem foi enviado para avaliar a situação?
Bill Campbell.

Quem foi o profissional que acompanhou a entrada de Eric Schmidt como CEO da Google até o momento em que os fundadores pudessem assumir posições mais estratégicas?
Bill Campbell.

Acredito que este coaching de gerações anteriores para as novas gerações, que vejo presente no Silicon Valley, seja uma das razões do sucesso daquele região, acelera as empresas por lá.

Qual a nossa cultura neste sentido? Você tem ou conhece boas histórias de mentores no Brasil? Ou somente conhecemos professores de surfe que nunca subiram em uma prancha?

Agradeço ao Pierre Schurmann.

Originalmente publicado na Startupi em 20/03/2014

O silicon valley já foi um lugar mais divertido.

our message to the competition is simple and straightforward national

Isso é fruto da personalidade de Bob Widlar. Gênio do projeto analógico de chips. Veja também sobre ele no Wikipedia. Um trecho do artigo acima que continua válido até hoje.

“His principle was “designing for minimum phone calls” and “if you make a million ICs; you get half a million phone calls if they don’t work right”.

Li algo semelhante no livro Marketing High Technology.

It’s the User Experience, stupid!

Ou como uma boa UX é essencial para startups competitivas.

Em meados dos anos 90, como gerente de tecnologia, eu tive que implantar um sistema de folha de pagamento numa empresa. A solução para o meu problema era óbvia: implementar o RM Folha, líder absoluto de mercado na época. Quando o vendedor da RM me apresentou a proposta, ele me ofertou o RM Folha Windows, que estava sendo lançado para fazer frente ao RM Folha DOS, que era o produto tradicional.

Eu, então, pensei como um engenheiro de software: vamos com o RM Windows, banco de dados relacional com arquitetura cliente server, moderno, multitask é uma decisão fácil.

Depois de um tempo, começaram as reclamações: “este software não funciona, é ruim, pouco produtivo etc”. Eu resolvi checar de perto a operação, ir ao chão de fábrica e acompanhar o operador dando a entrada de um novo funcionário no sistema Windows e fazer a comparação com um sistema DOS.

A diferença a favor do DOS era absurda: nele, o operador não tirava as mãos do teclado para nada. Era possível entrar as informações com velocidade e operar o sistema de forma fluida. As telas faziam sentido. O fluxo de trabalho era muito mais eficiente na versão DOS do que na versão Windows.

Estamos falando de uma boa experiência com usuário (UX) num mundo pré-interface gráfica. Com um aplicativo do tipo console em uma tela de 80 x 24 caracteres.

Sabre
Sabre

Da mesma forma eu vejo o sistema SABRE, que existe desde 1950. O sistema SABRE é baseado em seqüências de textos que são colocadas numa linha de comando. Com uma linha de comando, o operador consegue listar todas as opções de vôo entre dois aeroportos, filtrando por datas, stop overs etc.

W/-ATMAD‡CYSEVILLE, ES

A linha de comando acima pede a distância entre dois aeroportos. Quando um operador experiente em SABRE tem que operar um sistema equivalente na Web você vê no olho dele a decepção.

Hp12c
HP12c

Existem outros casos clássicos de boas UX, como a calculadora HP 12 C. Foi o maior fator de lock in criado por uma interface já ocorrido. A HP deve ter uma margem de lucro de 99% em cada calculadora, simplesmente pela razão de que todo o setor financeiro sabe usar a HP 12C para fazer os cálculos do dia a dia e a maioria dos usuários não quer aprender algo novo. Outro caso é o módulo de operação do projeto Apollo.

Apollo DSKY
Apollo DSKY

About Face 3Uma boa UX está relacionada com a produtividade. Uma boa User Experience é feita para um usuário que foi educado pela própria interface a usá-la de forma eficiente, como indica Alan Cooper no livro “About Face 3”. E uma boa UX é essencial para termos startups competitivas. É fácil elogiar a interface limpa do Google, que tem um único campo e lista os resultados. Não tão fácil é criar uma boa experiência com usuário num lançamento de notas para contabilidade ou operações de uma planta industrial.

Isso demanda o conhecimento profundo dos processos, para saber como criar os elementos e rever a forma de trabalhar. Quando trabalhei no site de pré-venda do Rock in Rio 2011, questionamos até as regras de negócio do cliente para mudarmos o fluxo de compra, diminuir o tempo de atendimento e aumentarmos o vazão do sistema. Decisões de UX foram essenciais para aumentar a performance do sistema e diminuir a quantidade de servidores usados.

Um bom especialista de UX tem a UI como base e tem que saber programar. Tem que focar no comportamento dos elementos. Deve programar o mínimo para deixar claro para os engenheiros de software como o software deve se comportar. UX é comportamento, UI é visual. Como o software se comporta é tão ou mais importante do que como ele aparece. Pense que a interface do Gmail não foi criada sem pensar também no comportamento. O software pode ser lindo esteticamente, mas se o cliente / usuário sofrer para executar o que precisa, não vai ter estética que mantenha o cliente satisfeito. Como disse Jeff Hawkins, criador do primeiro PDA de sucesso, o Palm Pilot, “devemos ser todos ‘tap counters’”. Jeff Hawkins dava muita importância ao número de taps que um cliente tinha que dar no Palm Pilot para que executasse uma ação. Ele dizia que tudo tinha que ser conseguido com menos de 3 cliques (taps).

Uma boa User Experience une arte e engenharia por meio de métricas, análise e um uso consistente de testes. É melhor um teste fraco do que nenhum. Os testes podem indicar mudanças na UI para comunicar muito com pouco. Comunicar muito com pouco é algo chave. Entender qual é a informação ou ação mais relevante para o usuário e colocá-la com uma hierarquia correta.

A capacidade de abordar a UX como engenharia e arte é essencial. Um bom profissional de UX que queira juntar as duas expertises, cuidando da parte visual e fazendo um desenvolvimento centrado no trabalho do usuário, é um fator competitivo de grande valor numa startup. E dá muito trabalho fazer isso direito.

Por isso é que uma start up, nos dias atuais, para ser competitiva, tem que ter uma UX adequada. É nítido o diferencial de um especialista de UX que consiga dar este passo além da UI. É um ativo que qualquer startup pode e deve alavancar.

Links relacionados:
http://littlebigdetails.com/
http://www.nngroup.com/articles/ten-usability-heuristics/
http://www.cooper.com/
http://www.edwardtufte.com/tufte/
http://thehipperelement.com/post/75476711614/ux-crash-course-31-fundamentals
http://www.stcsig.org/usability/topics/articles/he-checklist.html

Obrigado a Roxana Borges, Danilo Risada e Joniel da Silva

Originalmente publicado no site Design Baiano em 7 de março de 2014 at 20:09

Empreendedor: você também precisa ter sorte

Em 2006, a empresa TradingMarkets pediu que 10 playmates da Playboy fizessem um portifólio de investimentos com 5 ações na bolsa de valores. Depois de um ano o resultado da escolha das playmates foi comparado com o resultado dos fundos de ações tradicionais. A ganhadora foi Deanna Brooks, apurando 43% de retorno com um portifólio que incluía a Petrobrás.

Caso eu pedisse para a mesma Deanna Brooks que fizesse 10 obturações em dentes cariados, o resultado não seria o mesmo. Nunca um leigo conseguiria uma melhor performance que um profissional numa área como odontologia.

Existem profissões em que a habilidade é o fator que importa. Não existe muita sorte numa cadeira de dentista. Existem contratempos, mas eu não diria que a sorte desempenha um papel fundamental na profissão de um dentista ou de um piloto de avião.

Já não posso dizer o mesmo da profissão de quem trabalha em mercado de capitais ou – no caso de muitos que lêem este texto – de quem é empreendedor. Você precisa de sorte e você precisa entender o papel que a sorte exerce sobre o seu destino.

Para isso, vamos pensar que o resultado é a combinação de habilidade com acaso. A sua habilidade pode variar de -50 até 50 e a sua sorte pode ser de -100 a 100. Sorte negativa, neste caso, é o que chamamos de azar. Habilidade negativa é não entender nada. Habilidade zero é treinamento mínimo para desempenhar a função.

Se você começasse a operar na bolsa de valores no período de Jun/2005 e saísse em Dez/2007, sem treinamento específico, iria somente por chance ganhar muito dinheiro. A sua habilidade teria sido -50, mas a sorte contou a seu favor. Pois na nossa equação, a sua habilidade foi -50, sua sorte é foi 100 e o seu resultado final foi 50. Se você entendesse muito de mercado de capitais você teria uma habilidade de 50 com a sorte de 100 e teria o resultado de 150.

Há casos em que você já entraria no jogo perdendo. Se, da mesma forma, você é colocado num avião a 35.000 pés e pedem para você pousar, não existe nada neste mundo que deixe acreditar que por chance você consiga um resultado positivo. A sua habilidade é -50, a sua sorte é zero (um dia normal para um piloto) e neste jogo se o seu resultado for menos que zero, você está morto. Para sair vivo, neste caso, sua habilidade mínima é zero.

Da mesma forma, pense em duas pessoas. Moram uma do lado da outra em um condomínio, estão com 40 anos e conseguiram 2 milhões de reais de patrimônio. Um é dentista, muito bem sucedido, nascido em uma família de classe média com uma boa educação. O outro é um catador de lixo que achou um bilhete premiado na loteria. Caso a vida destas pessoas recomeçasse e em cada momento crucial da vida dela (ambiente em que nasceu, escolha da profissão, escola do primário, com quem se casou, etc) fosse sorteado um resultado, quantas das vezes o dentista chegaria ao mesmo patrimônio que tem hoje e quantas o lixeiro? Qual a probabilidade de um lixeiro achar um bilhete premiado da loteria? E se fossem bebês trocados na maternidade? Quem seria o lixeiro e quem seria o dentista?

Isso acontece todos os dias. A cada decisão que você toma como empreendedor, você está colocando em jogo a fórmula do acaso mais habilidade. Você pode tomar uma série de decisões, inclusive ruins, o mundo conspirar ao seu favor e o resultado ser positivo. Você pode tomar boas decisões, mas o acaso ir contra o seu jogo.

Desta forma, a única estratégia é aumentar a sua habilidade e se colocar em posição de boa sorte. Da mesma forma que um bom investidor tenta comprar uma ação para a qual a probabilidade de alta seja maior que a de baixa, você deve se colocar em situações em que a sorte fique ao seu favor.

A sua chance de encontrar um bom cliente é maior fora do seu escritório do que dentro dele. A sua chance de impressionar um cliente ou investidor é maior com uma demonstração do que com uma apresentação de slides. A sua chance de encontrar um investidor é maior em um café da Vila Olímpia em São Paulo do que em um bar no Rio Vermelho em Salvador.

Não se impressione com histórias sensacionais. Você pode estar na frente de um caso único de sorte. Pense o quanto o acaso foi a favor destes casos extremos. Procure aprender com pessoas que prosperaram em 3 ou 4 negócios, que estão no jogo há mais de 20 anos. A estas pessoas, o acaso já deu tanto a sua parcela de má quanto a de boa sorte.

Obrigado a Roxana Borges, Roberto Pinho e Gabriel Benarros.

Originalmente publicado na Startupi em 12.02.2014

Palestras de ganhadores de loteria

Alguns autores mudam a sua forma de pensar. Nassin Nicolas Taleb é um destes autores. No seu livro Fooled by Randomness, para exemplificar um ponto, ele discute a vida de dois vizinhos. Os dois vizinhos obtiveram ao longo da vida o mesmo excelente patrimônio. Um deles é dentista, formado por uma universidade prestigiada e com uma carreira de sucesso. O outro é lixeiro que achou um bilhete premiado de loteria.

Taleb propõe usando a técnica de Monte Carlo simular a vida destas duas pessoas, milhares de vezes. Cada ponto decisivo da vida dos dois (qualidade da infância, saúde, escola, início de carreira, casamentos, separações etc) seria atribuído uma probabilidade e ao final do encadeamento destes eventos seria verificado o patrimônio. Sem surpresas, na maioria das vezes, o dentista teria uma vida confortável. O lixeiro teria o mesmo patrimônio atual com uma probabilidade um pouco melhor do que achar um bilhete premiado (ele poderia casar com uma viúva milionária, ou achar uma mala de diamantes etc).

No TechCrunch assisti a palestra do David Karp. Me perguntei o que eu estava vendo. A história de um bilhete premiado. As chances de acontecer um novo Facebook, Twitter ou Tumblr são ínfimas. A história deles não refletem a realidade de 99,999% dos empreendedores. Estes empreendedores (sem desprezar a sua competência) ganharam um bilhete premiado. Casos únicos de 32 planetas se alinharem para a empresa deles vencerem.

São histórias diferentes das que você percebe lendo sobre a CycladesSAP, Intuit, Pay Pal, Genentech, Intel, ARM ou tantas outras. Nestas histórias o acaso ainda ajudou [se você não tiver sorte, esqueça], mas se usássemos a técnica de Monte Carlo para simular estas empresas, não teríamos uma chance de sucesso próximo a de um bilhete premiado.

Propagar histórias de bilhetes premiados sem darmos o real peso que elas devem ter, somente servem para propagar exemplos que não acredito serem os mais adequados para a sociedade. Não posso comparar a história destes empreendedores com um Gordon Moore, Gates, Jobs ou com um Herbert Boyer (que com sua empresa, ficou bilionário e melhorou a vida de milhões de pessoas).

Sendo assim, não me convide para palestras de ganhadores de bilhetes premiados.

[06/Maio] Inclui o vídeo da Cyclades.

[19/Maio] Comentário Roberto Pinho

a. Faltou dizer que o tal David Karp deve ter ralado, que ralar é fundamental, que tbm sorte não é condição suficiente, que ralar é o comprar o bilhete;

b. [se você não tiver sorte, esqueça] : ficou aberta a possibilidade de que sorte é algo definido a priori, quase místico. No mundo real, vc só sabe se vai ter sorte depois de tentar…

A ANCINE em apoio ao blockbuster e à concentração de mercado.

por Renné Dvorak

A ANCINE através da sua IN 105, pretende cobrar, a cada 5 anos, R$3 mil por cada filme disponibilizado por demanda.

O último blockbuster, como o Homem Aranha pagará R$3mil, o filme iraniano de arte, os mesmos R$ 3 mil. A conta é simples: para o milhões de potenciais espectadores de O Homem-Aranha, o custo será irrisório, centavos, se isto. Já o filme de nicho, pode ter seu custo elevado. Se só mil assistirem, R$3,00 por cabeça.

Mas esta análise é feita posteriori. Três reais nem é tanto assim, pode-se argumentar. O grande dano acontece antes: o imposto pode influenciar na decisão das empresas de oferecer obras de nicho que podem ter muito pouca audiência. Sob este aspecto, o retorno do investimento para o Homem Aranha torna-se muito maior.

Um outro efeito potencial é o da concentração de mercado. Se temos duas empresas oferecendo catálogos muito semelhantes, a união de ambas em uma só cortará o custo com esta taxa à metade.

O recado da ANCINE é claro nesta IN: queremos grandes conglomerados que ofereçam filmes destinados a grandes audiências. Se você é um pequeno distribuidor especializado em filmes de nicho, problema seu.

Jobs sobre IBM

Is there anybody out there?

Lendo estes post sobre IBM pelo Cringely achei esta pérola jobsniana.

“If you were a product person at IBM or Xerox, so you make a better copy or a better computer, so what?” Jobs asked rhetorically. “When you have a monopoly market share the company is not any more successful.   So the people that can make the company more successful are sales and marketing people and they end up running the companies and the product people get driven out of decision making forums.  And the companies forget what it means to make great products.  Sort of the product sensibility and the product genius that brought them to that monopolistic position gets rotted out by people running these companies who have no conception of a good product versus a bad product.  They have no conception of the craftsmanship that’s required to take a good idea and turn it into a good product and they really have no feeling in their hearts usually about wanting to help the customers.”

Aproveitando a deixa, melhor texto que li sobre Jobs aqui. Veja a relação de ódio e vingança na Next vs amor na Pixar.

Sobre Salvador (por Fredie Didier Jr.)

(este texto abaixo não é meu, mas concordo com ele 100%. O autor é Fredie Didier Jr.)

 

Ouvi de um guia grego que o legado histórico da Grécia não são seus monumentos, que são poucos, mas, sim, as suas ideias. Na Grécia, os monumentos que existem representam ideias que já existiam. Os anfiteatros gregos foram construídos para servir ao teatro que já se praticava – o teatro precedeu o anfiteatro. As ideias, disse-me, devem preceder os monumentos.
Lembrei-me de monumentais estádios de futebol sendo construídos em cidades que não possuem futebol profissional; belas e imensas esculturas de mármore representando canalhas etc. Monumentos que precedem ideias. Lembrei-me, ainda, de episódio de “O Bem Amado”: Odorico Paraguaçu inaugurando o cemitério, a maior obra de sua gestão, o seu mais grandioso monumento, construído em uma cidade em que ninguém morria.
Lembrei-me da minha cidade, com tristeza e melancolia. Salvador não passa por um bom momento histórico.
Não falo da crise em sua monumentalidade: Pelourinho abandonado, metrô inacabado, ruas sujas. Embora grave, este tipo de problema é de solução mais fácil.
Não me refiro, igualmente, à violência que nos assola. A violência impressiona, mas não destoa do que acontece em outras metrópoles.
Falo de outra espécie de crise, mais profunda e de efeitos mais deletérios. Salvador está em crise existencial.
Salvador foi, entre as décadas de 40 e 60 do século passado, um dos dois maiores polos culturais do Brasil. Caracterizava-se por uma efervescência criativa impressionante. Edgard Santos, na UFBA, era o grande timoneiro, trazendo à Bahia figuras como Agostinho da Silva, Eros Martim Gonçalves, Lina Bo Bardi, Ernst Widmer, Hans Koellreutter, Lia Robato e Yanka Rudzka. Em um mesmo local e uma mesma época, Diógenes Rebouças, Walter da Silveira, Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger, Mário Cravo, Floriano Teixeira e Pancetti podiam ser vistos caminhando pela cidade. Machado Neto, jurista inigualável, assombrava; Milton Santos já mostrava o talento de quem se tornaria um dos maiores geógrafos do mundo. Para não falar da Ângulos, na Faculdade de Direito.
Não por acaso, logo apareceriam a Tropicália e o Cinema Novo. A primeira, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duarte e Capinan, no final da década de 1960, um movimento cultural vanguardista essencialmente baiano; o segundo, com Glauber Rocha, entre o final dos 50 e o início dos 60, que teve em Salvador um dos seus centros de influência. Isso sem falar de Maria Bethânia cantando Carcará e de João Ubaldo Ribeiro iniciando sua vida profissional. Não faltavam ideias, não faltava ousadia, não faltava gente. Era a “vanguarda na Bahia” (Antônio Risério).
Mas, de alguns anos para cá, Salvador parece que perdeu o viço. A cidade, que “começou a existir para que o Brasil existisse” (Antônio Risério), apequenou-se.
O que marca Salvador atualmente? Quais as nossas ideias? Qual a nossa contribuição? De que modo interferimos no Brasil e no mundo?
Temos de retomar a nossa caminhada e refundar a cidade. Dar início a uma espécie de Renascença soteropolitana. Construir uma Recidade, como talvez dissesse Gilberto Gil.
É preciso fazer com que competência, criatividade, ousadia, inventividade, esmero, beleza, talento e dever sejam considerados valores indispensáveis ao desenvolvimento da cidade.
É preciso que o rigor não seja interpretado como tirania, o refinamento, boçalidade, e a inteligência, um insulto. Êxito, sucesso, prestígio não podem ser motivo de anátema. Temos de reconstruir a semântica da nossa convivência, para que ambição e vaidade sirvam para compor frases sem teor pejorativo. É preciso resgatar a ambição pela excelência e a vaidade do fazer bem feito.
Quem sabe, assim, “a seta” da cidade “acerta o caminho e chega lá”, como diz Caetano. Nessa canção, Caetano dirige-se à cidade e pede a ela que insista no que é lindo e, então, “o mundo verá tu voltares rindo ao lugar que é teu no globo azul, Rainha do atlântico sul”.
Salvador merece que façamos tudo isso por ela e a gente merece voltar a sentir orgulho da nossa cidade.

Genome Startup

Imagine uma iniciativa que tenha o objetivo de transformar empreendedorismo em ciência.

Que o líder desta iniciativa tenha este objetivo pela simples razão de ter sempre perseguido as grandes tendências, envolvido no Institute for the Future e na Singularity University. Ele também é membro da Sandbox Network.

Que ele tenha chegado a conclusão que o problema do mundo não é pobreza ou qualquer outra doença. O problema é não termos gente suficiente trabalhando nestes problemas e que a forma mais correta de corrigir isso seria escalar o empreendedorimo, transformando-o em processo com ferramentas e um corpo de conhecimento.

Imagine que o líder desta iniciativa chamada Genome Startup é Max Marmer e que ele tem  18 anos de idade. Veja o site e o paper de 50 páginas com as primeiras conclusões dos estudos dele e de sua equipe.